segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Queria entender menos o Machado...

"(...) Considerei o caso, e entendi que, se uma cousa pode existir na opinião, sem existir na realidade, e existir na realidade, sem existir na opinião, a conclusão é que das duas existências paralelas a única necessária é a da opinião, não a da realidade, que é apenas conveniente."

"O segredo do bonzo", em:
Machado de Assis:
Obra completa, vII. Rio de Janeiro:
Nova Aguilar, 1979, p325.

sábado, 26 de julho de 2008

Crer, estudar, superar-se.


Essa postagem talvez seja mais longa do que de costume. Mas o tema requer reflexão e sugere muita discussão...
Assistir ao filme “Arquivo-X Eu Quero Acreditar”, já me fez refletir deveras... Não pelo conteúdo do filme, especificamente, mas pelo que ele me faz pensar.

No dia seguinte, assisti a “Desafiando Gigantes” - Um filme recheado de lições de moral e ética e com uma questão central que retoma muito das minhas reflexões anteriores...

Como eu havia prometido, o tema Religião, Fé ou o contrário, será o tema de um grande encontro. E, talvez isso possa ser apenas o início.

Não vou entrar no clima “fanáticos por Arquivo-X” porque eu lia os livros mais do que via aos episódios, mas, falar do filme facilita um pouco, pois, por estar no circuito se torna um pouco mais popular e, conseqüentemente, mais digerível, digamos assim. O fato é: as coisas se explicam cientificamente, religiosamente - a partir ou através da fé, ou, quem sabe até, transcendentalmente?!

“Arquivo-X” se pretende questionador e fica praticamente em cima do muro, deixando sempre todas as possibilidades viáveis... Possibilidades em suspensão para justificar, por exemplo, a postura da “médica cética e com fé” (!?), da personagem Danna Scully, como na nota do JB On Line (http://jbonline.terra.com.br/extra/2008/07/25/e250720761.html).

O meu exercício, neste momento, é tentar fazer uma avaliação o mais isenta possível, e, repito: tento para acreditar que posso. Pois não é fácil. Esse tem de ser o princípio, se eu quiser sustentar uma discussão sobre o tema.

“Desafiando Gigantes”, por sua vez, poderia ter como tema “superação”, “moral”, “ética”, “perseverança”, “fé”, “religião”; Pode-se escolher qualquer um desses e: acertar. Mas, não se pode negar que carrega na tinta da religião. Coloca em Deus toda a responsabilidade e destino das conquistas e dos acontecimentos. Que seja através dos homens, sim. Mas não explora os mesmos temas sob o prisma do humano. Do livre arbítrio.

A própria palavra “transcendência” já carrega em si tanta controvérsia. Basta ver no dicionário. Como um conceito pode ser a um só tempo: abstrato e obscuro – metafísico, e resultar-se imediatamente da razão?! Se consultarmos alguns filósofos, então...

Constitui-se a síntese do pensamento de Plotino – 204-270: “Procurai sempre conjugar o divino que há em vós com o divino que há no universo”. Melhor, talvez, não explanar muito acerca de Feuerbach – 1804-1872, que “estava interessado não tanto no problema da existência de Deus, mas no processo de formação da idéia de Deus no pensamento humano” – Antologia Ilustrada de Filosofia, Ed. Globo.

Um pouco de lógica a partir de Charles Sanders Peirce, pode ajudar a avaliar os processos por meio dos quais podemos formar nossas convicções, através de três estratégias mentais:

- Método da tenacidade: típico daquele que obstinadamente se recusa a discutir as próprias crenças;
- Método da autoridade: que realiza o acordo social proibindo as opiniões que são diferentes da norma;
- Método metafísico: que se funda na razão, mas produz sistemas teóricos incontroláveis.


Por terem em comum a não possibilidade de erro, Peirce defende o Método Científico, pois “a verdade de qualquer afirmação consiste nas conseqüências a que dá lugar e por estas deve ser julgada”.

Atualmente, através da física quântica, alguns pesquisadores promovem uma “explicação científica para a reencarnação e imortalidade”, por exemplo: “Em termos atômicos, os átomos de nosso corpo são praticamente imortais e estão sendo reciclados continuamente.” – discorre o físico Amit Goswami acerca da física da imortalidade, no livro “A Física da Alma”.

“No princípio era o Verbo”.
O que guia esses processos, então?!

Está aberta a sessão...

segunda-feira, 5 de maio de 2008


Aos domingos abro a Revista O Globo direto na página da Martha Medeiros. Ela tem sempre algo a dizer que eu queira, ou precise, ler! Mas, como é lógico que os dias dela não são iguais aos meus, e como nem sempre, também, vemos os mesmos filmes, algumas vezes tenho apenas o prazer de ler um bom texto. Aliás, um "apenas" que vale o domingo, com certeza. O que eu não esperava era me emocionar, e me identificar tanto, com a Entrevista da edição deste Domingo, 04/05/08. Já havia lido ou escutado o nome: Adriana Falcão. Mas, sobre tudo o que leio, ainda não havia chegado a ela. Nunca vi "Comédia da Vida Privada" por pura falta de tempo. Sobre o filme "A Máquina", fiquei curiosa, mas ainda não esbarrei com ele na locadora. Entretanto, quando li sua entrevista na Revista, estatelei: "(...) porque acho que tem uma coisa que anda junto com o talento, que é a paixão." Afinal, quem pode imaginar qualquer uma de suas referências literárias sem esse ópio?! Poderia desfiar o meu rosário e todas as minhas melhores e mais loucas referências para compartilhar o seu comentário. Mas, seria melhor num café, não aqui. E, então, eu descubro, assim, de uma forma tão objetiva, que o que te sobra é: Amor. Amor que dói e te faz insuportável (adaptação minha). Pronto. Está decidido. Já adorei todos os seus textos que não li.

"Nunca estamos tão mal protegidos contra o sofrimento como quando amamos." – Freud.

"Nos registros dos sentimentos humanos, a dor (...) é o derradeiro afeto, a última crispação do eu desesperado, que se retrai para não naufragar no nada (...) é como que um estremecimento final que comprova a vida e o nosso poder de nos recuperarmos." Coincidentemente o tema do livro que estou lendo: O Livro da Dor e do Amor – J.D.Nasio.

Afinal, alguém duvida de que assim é a alma do artista?! E o que não falar, então, dos poetas?! Até hoje só tinha um texto que eu me atrevia a dizer que gostaria de ter escrito, que é o "Loucos e Santos" de Oscar Wilde, descrevendo seus amigos. Agora, então, eu acrescento a última resposta da Adriana à Entrevista. Perfeita.

Só voltando à Revista e lendo de novo!

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Eu preciso me redimir um pouco hoje... ok... tá bom... sem TELEMORFOSE de Jean Baudrillard contra os Bigui Brodis da vida... e, num momento bem menos filosófico, vou apresentar dois sites que descobri hoje numa revista de ART DESIGN.

MA-RA-VI-LHO-SOS. Pode acreditar.
Ou melhor. Veja.

Para começar... Você sabe o que é isso?!
Olhe com cuidado...



Eu ia amar ter em casa...

Então veja diretamente no site:

http://www.rakkudesigns.com/

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E, ainda falando em design, eu não poderia deixar de compartilhar um trabalho alucinante que uma designer faz com papel. Veja algumas fotos. Eu queria tocar... de tão bonito que é! No site tem muito mais coisas...




















http://www.jenstark.com/

sábado, 5 de abril de 2008

segunda-feira, 31 de março de 2008

Para não sentir saudades...

Não posso sentir saudades de alguém que está sempre em mim. Porque, pensar, é já estar junto.


Por muito tempo achei
que ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada,
aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento
exclamações alegres,
porque a ausência,
essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.

Carlos Drummond de Andrade
.


domingo, 30 de março de 2008

O silêncio mensagem

Precisamos educar mais os nossos silêncios...

Ao se assistir a óperas, balés ou concertos acaba-se por educar os olhos e ouvidos, se o for com insistência. Mas, apenas isso, não basta. Hoje assisti a um espetáculo belíssimo do Russian State Ballet. O programa apresentava trechos de diversas obras, como O Lago dos Cisnes, O Quebra-Nozes, A Amapola da Califórnia, entre outros, divinamente interpretados.

Mas, por várias vezes uma apresentação era interrompida por aplausos... no meio da interpretação...


No livro "O Sistema dos Objetos", Jean Baudrillard já dizia:

"(...) De fato, o espaço também se conota como vazio: em vez de nascer da inter-relação viva das formas (o espaço "ritimado") vê-se as formas dependerem umas das outras através do vazio, ou signo formalizado do espaço. Em um cômodo onde há espaço, há um quê de Natureza: "isto respira". Daí a tentação do vazio: paredes nuas significarão cultura e desafogo. Este bibelô será valorizado criando o vazio à volta dele. A "ambiência" é assim muitas vezes somente disposição formal, onde um vazio calculado "personaliza" alguns objetos. Inversamente, na série, a penúria de espaço destrói a ambiência por privar os objetos desta respiração luxuosa. Talvez seja preciso ler nessa situação do vazio o reflexo de uma moral, a da distinção e da distância. Há pois aí também a inversão da conotação tradicional, a das substâncias plenas em que o valor se inscrevia na acumulação e na ostentação ingênua."

Ainda por Jean, "observamos que o sistema inteiro repousa sobre o conceito de funcionalidade. Cores, formas, materiais, arranjo, espaço, tudo é funcional." E assim, esperamos que tudo o seja.

Mas... pausa.

Vá além disso e você poderá encontrar... um pouco de... uma pausa que preenche.

Apenas um sentir não se sabe o quê, que jamais passa despercebido.

Muitas vezes, contemple. E observe o muito que pode ir além da funcionalidade das coisas.

domingo, 23 de março de 2008

Para refletir Goethe

Alguns espelhos nos fazem pensar.
... e não é para isso mesmo que eles servem?!


Não existe meio mais seguro para fugir do mundo do que a arte, e não há forma mais segura de se unir a ele do que a arte.
Johann Goethe

Nada é mais repugnante do que a maioria, pois ela compõe-se de uns poucos antecessores enérgicos; velhacos que se acomodam; de fracos, que se assimilam, e da massa que vai atrás de rastros, sem nem de longe saber o que quer.
Johann Goethe

Muitos não sabem quanto tempo e fadiga custa a aprender a ler. Trabalhei nisso 80 anos e não posso dizer que o tenha conseguido.
Johann Goethe

No mundo há muitas palavras mas poucos ecos.
Johann Goethe

Dê-me o benefício das suas convicções, se as tiver, mas guarde para si as dúvidas. Bastam-me as que tenho.
Johann Goethe

São precisamente os erros dos homens que os tornam amáveis.
Johann Goethe

A claridade é uma justa repartição de sombras e de luz.
Johann Goethe

Escrever é um ócio muito trabalhoso.
Johann Goethe

A vida é a infância da imortalidade.
Johann Goethe

O génio, esse poder que deslumbra os olhos humanos, não é outra coisa senão a perseverança bem disfarçada.
Johann Goethe

O talento educa-se na calma, o caráter no tumulto da vida.
Johann Goethe

Almejas voar mas temes ficar tonto?
Johann Goethe

É certo, afinal de contas, que neste mundo nada nos torna necessários a não ser o amor.
Johann Goethe

http://www.pensador.info/autor/Johann_Goethe/

Já tem tempo que fiz essa foto. Ela já estava no meu Fotolog e já havia se transformado em marcador de livros, com ajuda de Goethe. Eis que semana passada, ela fez parte de um instante, inesperado.


Acho que Origami é isso mesmo... pedaços de um todo que se encontram no tempo. No espaço. E no coração da gente.


"Neste mundo nada nos torna necessários a não ser o amor!" Goethe.

sexta-feira, 21 de março de 2008

Minhas Impressões



Como prometi, publico meus comentários acerca dos filmes: A Poderosa Afrodite e Armadilhas do Coração.

Espero que muitas vezes estejamos aqui para falar de cinema e livros!

Não sei se vc já tinha visto algum deles, mas, o primeiro é para quem gosta ou consegue acompanhar a fórmula Wood Allen. Nesse filme, ele mescla teatro grego com uma história contemporânea. É bom.

O outro, como já disse, é baseado em conto de Oscar Wilde. É uma tentativa muito "morna" de adaptar o texto de Wilde (que vc sabe como é maravilhoso), porém: Sem a velocidade que a hipocrisia inglesa propõe; Sem a força do discurso, que somente a exibição em palco permite aos seus textos, e, sem a correta tradução do texto e, principalmente, do título, o que faz a narrativa perder o "mote" principal da história.

Porque:

- O título original desta peça é: "The Importance of Being Earnest." - uma brincadeira com o nome "Ernest", que se remete ao personagem principal da peça.

(OBS: "Earnest" em inglês significa "seriedade" / "sério".)

- No Brasil, o livro recebeu o título de "A Importância de ser Prudente."
E a peça de teatro: "A Importância de ser Fiel".
(Que, de certa forma, permite a relação com o contexto no discurso.)

- No filme, inexplicavelmente, o título é (em português): Armadilhas do Coração.
E, em inglês, "The Importance of Being Earnest."

Embora não tenha tido ainda a oportunidade de verificar o áudio em Inglês, na tradução / legenda / áudio em português, em momento algum, para quem não conhece a relação do nome com o contexto, se faz a relação "Ernest" x "Earnest". Ou seja, o filme, a despeito de todas as outras perdas mencionadas acima, perde bastante na própria piada, vamos dizer assim!

Como, por exemplo, quando uma das personagens diz, emocionada: "Sempre sonhei em me casar com um "Ernest"... (que traz em si toda a relação que informo acima...)
Ou, principalmente, na última frase do filme, quando o personagem Ernest diz: (algo assim) "Essa é a importância de ser Ernest"...

Completamente diferente de se escutar, pelo menos: "Essa é a importância de ser Fiel", no teatro.

É aquela história... se o cara se propõe a ser tradutor, ele tem que ENTENDER o contexto, para poder passá-lo corretamente. Justamente porque não dá para aplicar uma segunda legenda (rsrsrsrs!) explicando que "Ernest" é uma brincadeira com "Earnest" que significa isso ou aquilo... etc, etc, etc.

Às vezes me pergunto se as coisas boas que me acontecem o são assim somente ou se são formas de ver que tanto exijo em mim mesma. Até porque, nem mesmo certas ordens se educam em mim. Como, quando coisas boas acontecem e trazem uma felicidade genuína. Na maioria das vezes é o contrário. É um exercício extenuante de se fazer feliz. De ver as coisas, muitas vezes, como elas não o são. Para poder continuar. E fico grata por essa força que vem não-sei-de-onde e me sustenta. Mesmo quando eu não acredito que seja possível. Daí, em alguns momentos, me surpreendo com a vida me presenteando com dias, ou momentos, ou pessoas, ou sentimentos maravilhosos. E, então, o exercício é o de não congelar. Não me proteger para não doer. Ainda que eu saiba que é essa dor que traz a minha bagagem. Saber lidar com as pequenas perdas para poder perceber os ganhos verdadeiros. Não. Eu não tenho medo de errar. Tenho medo de deixar de amar. De deixar de sentir esse embrulho no estômago que me impele pra frente. Que me permite te ver humanizada em cada uma das coisas que você faz. Que me permite ensinar o meu filho a ser uma pessoa independente e saber que é isso mesmo o que o liga tanto a mim. De ter a confiança de que as coisas que são minhas devem estar numa corda frouxa que volta sempre pra mim. Eu funciono com o instinto, com a intuição, sim. Mas, principalmente, com uma exigência de ver as coisas desprovidas de interferências. Mas embriagadas de sentimentos. Por mais paradoxal que seja.

Improvável


O título do meu Blog é o que são as melhores coisas da minha vida.

A cada dia eu me surpreendo. E o meu empenho é inteiramente nesse sentido. Surpreender-me sempre. Mesmo quando o meu empenho é em calar-me. Em deixar as coisas acontecerem. Ou em me dedicar sem me afrontar. Em ir muito além de mim mesma, sem me perder.

E assim, trazer comigo as pessoas mais especiais que eu poderia ter na minha história.

Construir uma história que para mim mesma é tão mais improvável como possível, e, talvez, até por isso mesmo.